sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Cidadania e Participação

Por. Walter Vieira Junior*

Partindo da compreensão de Jürgen Habermas em sua teoria da Ação Comunicativa, o sujeito é parte de um processo que está além do seu “conhecimento fechado” mas se torna amplo no momento em que somos seres relacionais.

A partir dessa máxima, à luz da compreensão da Teoria da Ação Comunicativa, desenvolveremos uma pequena analise reflexiva sobre a visão de cidadania e participação no âmbito escolar.

Um problema bastante corrente está na maneira em que concebemos uma ideia, devido a nossa visão de mundo, devido a nossa capacidade de assimilação do diferente, devido até, e talvez, principalmente o nosso ouvir. Tamanha é a necessidade de se comunicar e de se fazer comunicar.

Mediante a nossas experiências somos convidados a assumir certos papeis sociais que ao longo do processo civilizatório foram se transformando, afinal, somos seres em uma constante mudança. O mundo em nossa volta muda, as culturas e sociedades mudam, o nosso corpo muda. Mas o que isso tem a ver com o meu pensar sobre os outros? Tudo.

Em Habermas, o mundo da vida, conceito que ele usa para fundamentar sua Teoria Ação Comunicativa, se dá em três componentes estruturais: Cultura, sociedade e pessoa. A cultura aqui é entendida como o estoque de conhecimento do qual os atores suprem-se de interpretações quando buscam a compreensão sobre algo no mundo; já a sociedade, como as ordem legitimas, através das quais os participantes regulam suas relações no grupo social; Pessoa é entendida como as competências que tornam um sujeito capaz de falar e agir, ou seja, de compor sua própria personalidade (Habermas, 1987a).[1]

Segundo o professor José Marcelino de Rezende Pinto “para Habermas, existe uma correlação direta entre ação comunicativa e mundo da vida, já que cabe à primeira a reprodução das estruturas simbólicas do segundo (cultura, sociedade, pessoa).” Logicamente essa proposta de uma razão pautada na comunicação intersubjetiva, é sem sombra de dúvida um desafio já que vivenciamos em nossas escolas uma razão instrumentalizada e fechada quase totalmente ao “novo”. Como nos apresenta Ruiz e Zancanaro: “O pragmatismo, muitas vezes, determina o pensar nesse lócus e os fins acabam por justificar os meios, valorizando-se mais os resultados estatísticos do que o processo em si mesmo.”[2]
O texto Racionalidade comunicativa na filosofia de Jügen Habermas nos diz assim: “O projeto de emancipação humana via razão instrumental implicou numa manipulação dos recursos naturais e numa reificação do próprio ser humano. Sérias foram as consequências disso para a contemporaneidade, como por exemplo, a questão do aquecimento global e da clonagem humana.”[3] Precisamos a partir de uma ética de corresponsabilidade, repensar nossas falhas e enfrentar nossos desafios, não mais, como bonecos manipuláveis, mas sim, como protagonistas de nossa voz.

Habermas com a teoria da ação comunicativa inaugura juntamente com o conceito de mundo da vida “uma ética fundamentada numa razão aberta ao diálogo, que se comunica de forma performativa e consensual.”[4]
           
O que muito nos favorece na prática de uma educação pautada na relação do eu com o outro. Onde a autoridade não se dá no autoritarismos, mas numa legitimidade que se funda na busca em alcançar o entendimento. Como nos apresenta José Marcelino:

Em síntese, podemos dizer então que, para Habermas, a ação comunicativa surge como uma interação de, no mínimo dois sujeitos, capazes de falar e agir, que estabelecem relações interpessoais com o objetivo de alcançar uma compreensão sobre a situação em que ocorre a interação e sobre os respectivos planos de ação com vistas a coordenar suas ações pela via do entendimento.[5]

Os conselhos escolares, como também, a participação das comunidades nesse processo, como parte da Educação e não apenas como grupos burocráticos regulamentadores e autoritários. Podem possibilitar, juntamente, com os próprios educadores a transformação que tanto desejamos. Por meio de uma participação mais viva, onde cada um traz consigo algo que acrescente no todo, uma humanização na relação e não teremos mas a frieza da “papelada e de decisões” meramente fora da vivência do todo.

“Uma ação pedagógica pautada na razão comunicativa pressupõe um espaço onde todos os atores possam aferir suas opiniões, possam realmente interagir com os seus pares, refletindo sobre as atitudes individuais e coletivas. Dessa forma, os agentes educacionais não seriam meros receptores de informações, mas sim sujeitos efetivos do processo educacional.”[6]   
         
                
Essa participação resultará numa cidadania participativa, e atuante no seio da esfera social, Nossos conselhos escolares, assim como os gestores, por meio dessa proposta apresentada, de uma teoria da ação comunicativa que visa a quebra da formação bancária, da instrumentalização da razão, de uma centralidade autoritária outorgada pela falta de comprometimento ou até mesmo pelo medo da coletividade pensante, poderá criar base para a transformação da educação vigente. Um eclodir de uma nova visão de gerenciamento educacional por meio da ação não mais externa, mas interna.
               
A educação precisa ser comunicativa, vibrante, viva e não engessada pela necessidade de um preenchimento de mão de obra para uma força de trabalho, não se pode educar como se fosse uma fábrica em série, uma linha de produção cuja o objetivo está na manutenção do status quo, pois se continuarmos na busca só do interesse individual, deixaremos nossa principal característica que é a de sermos seres de relação.




Referências Bibliográficas

CARMO, Ana Lídia Lopes do. Gestão Escolar. Disponível em: <http://www.infoescola.com/educacao/gestao-escolar/>. Acesso em :28 de out de 2015

COUTO, Adilson Luiz Umbelino. Ética do discurso segundo Jürgen Habermas. Mariana: Instituto de Filosofia São José, 2002.

FREITAS, Alex Martins de. Racionalidade comunicativa na filosofia de Jürgen Habermas. Blog, Pensamento Extemporâneo. Disponível em: <http://pensamentoextemporaneo.com.br/?p=412>. Acesso em: 28 de out de 2015

PINTO, José Marcelino de Rezende. A teoria da ação comunicativa de Jügen Habermas: conceitos básicos e possibilidades de aplicação à administração escolar. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-863X1995000100007>. Acesso em 27 de out de 2015

RUIZ, Maria José F..ZANCANARO, Lourenço. Razão Comunicatica e Educação. Disponível <http://coral.ufsm.br/gpforma/2senafe/PDF/007e4.pdf> Acesso em 29 de out de 2015.



* Bacharel em Filosofia pela Faculdade Arquidiocesana de Mariana e Lincenciando pelo Centro Claretianos. Professor de Filosofia do Ensino Médio e Ciber Cultura da Educação Integral da Escola Estadual Omar Rezende Perez, 

[1] PINTO, José Marcelino de Rezende. A teoria da ação comunicativa de Jügen Habermas: conceitos básicos e possibilidades de aplicação à administração escolar.
[2] RUIZ, Maria José F..ZANCANARO, Lourenço. Razão Comunicatica e Educação.
[3] FREITAS, Alex Martins de. Racionalidade comunicativa na filosofia de Jürgen Habermas. Pensamento Extemporâneo
[4] FREITAS, Alex Martins de. Racionalidade comunicativa na filosofia de Jürgen Habermas. Pensamento Extemporâneo
[5] PINTO, José Marcelino de Rezende. A teoria da ação comunicativa de Jügen Habermas: conceitos básicos e possibilidades de aplicação à administração escolar.
[6] RUIZ, Maria José F..ZANCANARO, Lourenço. Razão Comunicatica e Educação. p. 5.

Um comentário:

  1. “Eu achei o texto legal, porque ele fala coisas importantes como a educação comunicativa, pois a educação precisa ser comunicativa devido a nossa necessidade de relação.”

    Por:Douglas de jesus
    serie:7ºano B

    “Os conselhos escolares, podem possibilitar, juntamente, com os próprios educadores a transformação que tanto desejamos.
    Como aluno desejo uma educação boa, legal, respeitosa. Por isso,acredito nos conselhos escolares.”

    Jorge 7ºano b

    “Eu achei o texto uma coisa muto boa. “Em Habermas, o mundo da vida, conceito que ele usa para fundamentar sua Teoria Ação Comunicativa, se dá em três componentes estruturais: Cultura, sociedade e pessoa.” Sim, por isso ensinar cidadania e participação para dar uma menhorada no lado da cultura,sociedade.”

    Gloduardo 7ºano b

    “O Mundo não gira ao nosso redor. Porque temos que ajudar a melhorar o nosso lugar de convivência. Se eu e você não ajudarmos como iremos mudar?”

    Luiz Fernando 9ºano

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